Projeto Inovador de Sustentabilidade no Centro de Convivência de São Pedro
Para quem acha que chegar aos 60 anos é sinônimo de uma vida de muitas limitações e “sem graça”, os idosos que participam de ações no Centro de Convivência (CC) de São Pedro estão aí para trazer um novo olhar de possibilidades sobre a velhice.
“A pessoa nunca deve se sentir velho, ultrapassado. É preciso saber que temos oportunidades de ir além, de ter alegrias e saúde. É preciso conviver, assim a gente pode aprender e ensinar outras pessoas sempre. Um ajudando o outro a evoluir”, disse Terezinha Aníbal Fernandes, de 85 anos, mãe de 18 filhos, netos e bisnetos.
A afirmação feita na manhã da quarta-feira (20), após a idosa ser convidada para receber o primeiro exemplar do livro de receitas produzido pelo grupo, como um dos resultados do projeto inédito executado no espaço São Pedro intitulado “7 R’s – um processo educativo e transformador para adoção de novos hábitos no cotidiano e garantir um futuro melhor, mais saudável e sustentável”.
Demonstrando muita emoção, Terezinha contou que durante os últimos três meses participou das atividades e ações propostas pelos educadorers do Centro, voltadas ao 7 R’s, em paralelo às aulas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), e as do curso de Turismo do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).
Toda orgulhosa, ela fez questão de dizer que vai concluir os estudos para poder realizar um sonho alimentado desde a infância: “poder apresentar um diploma escolar e escrever o nome da escola que estudou nos formulários de inscrições de cursos e do Cras (Centro de Referência da Assistência Social)”.
“Eu cuidei de todo mundo e me deixei de lado. Aqui (CC São Pedro) encontrei apoio, incentivo. Não era analfabeta, mas não tinha diploma. Aqui estou tendo oportunidades e, agora, posso dizer que vou mais longe. Vou chegar lá”, disse Terezinha.
A próxima pergunta foi, “onde seria esse lá?”, e ela também estava com a resposta pronta: “Quero fazer cursos de informática para aprender a fazer minhas planilhas de gastos, de compras, controle dos meus trabalhos, cuidar das finanças como empreendedora”. Sobre o que o projeto 7 R’s tem a ver com isso, Terezinha também tem a resposta: “A gente aprende a reciclar tudo. Até a nossa vida. Eu cheguei aqui por conta de muito sofrimento (perda de um neto, um filho e do marido em um curto espaço de tempo). Voltei a conviver, participando do projeto”, falou ela.
Felicidade
Para as idosas Maria das Graças Aguiar, de 73 anos, e Maria do Carmo Freitas, 75, o sentimento de felicidade estava estampado no rosto. Ao serem questionadas o que aprenderam com o projeto 7 R’s a resposta foi a mesma: reduzir. “Não me dava conta de quanto eu desperdiçava de alimento. Pra mim, dos ‘erres’ o mais importante foi o de reduzir as compras de alimentos na feira. Eu ia fazer feira e trazia um monte de coisa e, depois estragava quase tudo. Agora, compro pouco, consumo e, depois volto e compro mais”, disseram elas.
Maria do Carmo falou, ainda, que o erre do reciclar também está sendo praticado na sua vida. “Estou reciclando hábitos. Para viver mais e melhor”, destacou.
Reciclar
Para a idosa Ana Rodrigues da Fonseca, de 84 anos, participar desse projeto 7 R’s foi muito importante também para reciclar os sentimentos negativos de sua vida. “Estou muito feliz em ver as sementes que plantei na horta germinando”, disse ela. Ana contou que durante esses meses de atividades não faltou um dia. “Cada dia era um aprendizado diferente. E tudo contribuiu para acabar com os meus sofrimentos. As coisas ruins eu deixei passar, joguei para as ondas do mar levar”, brincou ela.
A coordenadora do Centro de Convivência de São Pedro, Karine Juvencio fez questão de falar sobre a elaboração do projeto que foi feito em três etapas: formação socioambiental junto a Secretaria de Meio Ambiente (Semmam) com os trabalhadores do local; aprimoramento das literaturas sobre o tema; e as ações efetivas contemplando “Movimento Sustentável, Receitas Afetivas e A arte da mão na terra”.
“Sabemos que partilhar alimentos é um ritual que ultrapassa a mera nutrição, é um momento de conexão, fortalecimento de laços e criação de memórias preciosas. Assim, “Receitas Afetivas” não é somente um guia culinário, mas uma porta aberta para as ricas e diversas experiências vividas no território de São Pedro”, destacou ela.
A gerente de Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, Cristina Silva, enfatizou a parceria da Semmam para o sucesso do projeto que contribui para que “nossos idosos repensem hábitos, valores e práticas, reduzindo o consumo exagerado e evitando o desperdício”.
Ao saber dos resultados, a secretária de Assistência Social de Vitóiria, Cintya Schulz, reforçou a potência que são os trabalhadores do Sistema Único da Assistência Social (Suas) no desenvolvimento de ações que culminem na transformação social das famílias. “Os nossos trabalhadores são potentes em enxergar as potencialidades dos seus territórios e dos usuários dos nossos serviços. O que eu posso dizer mais? Orgulho dessa equipe tão potente na garantia de direitos”, disse Cintya.
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