Pesquisadores da Ufes Utilizam Teias de Aranha para Monitorar Poluição
Projeto é inspirado na ideia de cientistas alemães, que resolveram realizar o mesmo procedimento para monitorar um tipo específico de poluição atmosférica
Para muitas pessoas, as teias de aranha são maus presságios. Afinal, ao se encontrar com uma dessas estruturas, há a certeza de que o aracnídeo está bem perto. Mas para alguns pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), essas teias de seda ajudam a medir a poluição atmosférica.
A ideia surgiu no passado, quando uma equipe de pesquisadores, capitaneada por Mercia Barcellos da Costa, bióloga do Departamento de Química da Ufes, decidiu colocar a mão na massa, ou melhor, na teia, para monitorar partículas de microplástico na atmosfera.
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O projeto surgiu com Mercia e uma amiga, doutora em Química, e é inspirado na ideia de cientistas alemães, que resolveram realizar o mesmo procedimento para monitorar este tipo de poluição atmosférica.
“Resolvemos testar essa mesma metodologia e propor em um projeto, que acabou já virando um artigo publicado, que está nos trazendo grande alegria, porque conseguimos publicar em uma revista super importante”, relata Mercia.
A revista em questão é a “Journal of Hazardous Materials”, uma publicação internacional revisada por cientistas de todo o mundo.
E como funciona o processo de monitoramento e coleta dos microplásticos por meio das teias de aranha? A seda dos aracnídeos, conforme explica a bióloga, serve como uma espécie de “cola”, que se gruda aos poluentes.
E para quem se preocupa com o bem-estar do animal, é importante esclarecer: as aranhas não são machucadas ou prejudicadas durante este processo.
“A teia de aranha funciona como um amostrador passivo, as partículas que estão na atmosfera vão grudar na teia de aranha e vão ficar presas lá. Nós então vamos onde a aranha está e coletamos apenas a teia. A aranha continua viva e produzir novamente sua teia. Trazemos a teia para o laboratório e lá acontece o estudo do material, que são os microplásticos”, explicou.
Segundo a pesquisadora, a teia se demonstrou extremamente eficiente durante os estudos e reteve quantidades muito grandes de microplásticos.
Por meio do laboratório é possível, inclusive, determinar quais são as áreas mais contaminadas pelos poluentes.
O estudo ocorreu na própria universidade, no campus de Goiabeiras, em Vitória. Foram estabelecidos 30 pontos amostrais e coletadas determinadas quantidades de teias de aranha.
Com isso é possível analisar e quantificar quais são as áreas que mais sofrem com a contaminação de microplásticos na própria universidade. Um resultado preocupante do estudo, como explica a pesquisadora, é que em todos os 30 pontos amostrais o poluente foi encontrado.
“Além disso, temos dois pontos em especial que apresentaram quantidades muito grandes quando comparados aos outros 28 pontos. Os microplásticos na atmosfera representam um problema para a saúde humana, porque nós respiramos microplásticos e eles podem se depositar no pulmão das pessoas. Hoje há uma preocupação muito grande. Conseguimos constatar que o ar que respiramos dentro da universidade apresenta grande quantidade de microplástico”,disse.
Apesar das constatações preocupantes, a pesquisadora diz estar satisfeita com resultado do estudo, assim como com o trabalho da equipe que a auxiliou neste processo.
A publicação em uma revista internacional significa uma grande vitória para os pesquisadores capixabas.
“Realizar esse estudo e obter os resultados foi fantástico! Confirmar a viabilidade do uso de teias de aranhas também. É uma metodologia eficaz e muito barata. Pode ser usada para analisar muitos outros contaminantes, além dos microplásticos. Publicar na Jornal of Harzardous Materials nos enche de orgulho, mostra que fazemos ciência de qualidade”, disse.
Além de Mercia, o projeto também é assinado pelos pesquisadores João Marcos Schuab, Cristina Maria dos Santos Sad, Enrique Ronald Yapuchura Ocaris, Mariana Beatriz Paz Otegui, Daniel Gosser Motta, Karina Machado Menezes, Felipe Barcellos Caniçali, Antônio Augusto Lopes Marins, Gustavo Zambon Dalbó, Mateus Marçal Alves, Bruno Fioresi Paqueli, Gabriela Carvalho Zamprogno.
O próximo passo da pesquisa, segundo a bióloga, será realizar coletas por diferentes regiões do Espírito Santo. A ideia é que o projeto se expanda para outras áreas de todo o país.
Fonte: Folha Vitoria
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