Celebrando a Tradição: Capital comemora 150 anos da Imigração Italiana neste Sábado

Celebrando a Tradição: Capital comemora 150 anos da Imigração Italiana neste Sábado

Em comemoração pelos 150 anos da imigração italiana no Espírito Santo, será realizado, neste sábado (17), o evento “Noi Siamo La Storia”, da Associação Federativa Comunitária Italiana do Espírito Santo (Comunità), que terá início na Praça do Papa, na Enseada do Suá.

A celebração, que começa a partir das 7 e vai até as 15 horas, comemora a chegada, em 1874, da expedição de Pietro Tabacchi ao Estado, com 388 camponeses italianos à bordo do navio “La Sofia”.

Uma ampla programação incluirá atividades culturais diversas como música, comidas típicas, danças, além de apresentar outros elementos, como por exemplo, traços da religiosidade dos imigrantes.

“Celebrar a imigração italiana é celebrar a nossa história. Temos no Espírito Santo uma das maiores colônias italianas do Brasil e nossa trajetória é marcada pela ajuda desses europeus que fazem parte da construção do nosso estado. Esta também é uma grande oportunidade para além do reconhecimento, de demonstrarmos mais uma vez uma das nossas características mais marcantes: a do acolhimento. Parabéns a toda colônia italiana e parabéns a todos que convivem tão ativa e harmoniosamente em prol de uma sociedade cada vez mais pujante e igualitária”, declarou o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini.

O evento trata-se de uma encenação histórico-cultural que acontecerá na capital na mesma data em que o “La Sofia” aportou no Estado. Após a encenação, que começa na Praça do Papa, passa pelo Porto de Vitória e tem missa na Catedral Metropolitana, o público participará de uma grande festa com direito ao tradicional “Tombo da Polenta”, apresentações culturais de grupos folclóricos e degustação de pratos típicos regados a muita música.

Trajeto

A encenação começa na Praça do Papa com o embarque dos participantes no aquaviário. O cortejo marítimo percorrerá o caminho até o Porto de Vitória, onde tem início um segundo cortejo, desta vez à pé, até a Catedral Metropolitana, por meio da Escadaria Bárbara Lindemberg (Palácio Anchieta).

Após a Missa, têm início os festejos.

História

O Espírito Santo é considerado, oficialmente, o berço da imigração italiana no Brasil, pois foi em território capixaba que teve início a grande epopeia da imigração italiana para o país.

A inauguração desse processo imigratório se deu em 1874 com a chegada da Expedição Tabacchi, composta por 388 camponeses norte-italianos (trentinos e vênetos).

A expedição, assim denominada em homenagem ao seu empreendedor, chegou à baía de Vitória em 17 de fevereiro de 1874, a bordo do navio La Sofia: embarcação a vapor que transportou, de Gênova à capital capixaba as famílias imigrantes. Também faziam parte desse grupo o médico Pio Limana e o padre Dom Domenico Martinelli, conforme o sociólogo Renzo Grosselli.

Esses camponeses aceitaram o desafio de trabalhar na propriedade de Pietro Tabacchi, italiano que, desde a década de 1850, possuía uma fazenda nas proximidades da vila de Santa Cruz, no atual município de Aracruz, ao norte de Vitória.

O sucesso dos agenciadores de Tabacchi, na tarefa de arregimentar camponeses norte-italianos para seu projeto, seria o prenúncio do que viria a ocorrer dali em diante. A Expedição Tabacchi inaugura, de fato, em 1874, a grande diáspora de italianos para o Brasil: um fluxo massivo de camponeses que se estendeu por praticamente um século. A partir do ano seguinte, além do Espírito Santo, outras províncias brasileiras passaram a receber grandes levas de italianos em seus portos.

Esse pioneirismo dos italianos em terras capixabas foi reconhecido pela Lei Federal, por meio da Lei 11.687, de 2 de junho de 2008, sancionada pela Presidência da República. O autor da proposta foi o então Senador do Espírito Santo, Gerson Camata (1941-2018), que tinha por objetivo “prestar a devida homenagem ao imigrante italiano, que, vindo de terras tão distantes, aqui se instalou e se fez gente nossa”.

Mas, esses pioneiros italianos se rebelaram contra as cláusulas abusivas do contrato com Pietro Tabacchi, na fazenda Nova Trento (Aracruz). Num gesto de revolta, abandonaram Santa Cruz e exigiram serem transferidos para as colônias oficiais, para assim trabalhar em terras de sua propriedade.

Um grupo seguiu para as colônias do Sul do Brasil, enquanto outros 145 italianos, que estavam hospedados em barracões em Vitória, à espera de um destino, aceitaram a proposta do governo do Espírito Santo para se instalar na Colônia Imperial de Santa Leopoldina.

No acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), existem centenas de documentos que testemunham esse importante fato histórico. Parte dessa documentação, esclarece que a colonização italiana em Santa Teresa (Núcleo do Timbuhy – na antiga Estrada de Santa Tereza) teve início entre os meses de maio e outubro de 1874. Com base nesses documentos do Arquivo Público foi instituída a Lei Federal n. 13.617, de 11 de janeiro de 2018, que reconhece, oficialmente, a cidade de Santa Teresa como a pioneira da imigração italiana no Brasil.

Aos poucos, essas primeiras famílias foram conduzidas, em pequenas canoas, via Rio Santa Maria da Vitória, ao então Porto do Cachoeiro de Santa Leopoldina (junto ao local até onde era possível a navegação). A partir desse ponto de desembarque, o trajeto deveria ser percorrido em trilhas abertas em meio à floresta, a pé ou em lombo de animais, até se alcançar os lotes agrícolas, no Núcleo do Timbuhy, um anexo da citada colônia, em território do atual município e cidade de Santa Teresa.

Essa trilha se alargou e transformou-se na Estrada 080-ES, que une as cidades de Santa Leopoldina e Santa Teresa, um percurso de 30 Km. Nesse percurso, desde 2004, quando se comemorou os 130 anos da imigração italiana, sempre no dia 01 de maio, é realizado o evento Caminho do Imigrante .

Em anos anteriores aos colonos de Tabacchi, porém, entraram no Espírito Santo pelo menos 42 itálicos, conforme dados do Projeto Imigrantes Espírito Santo, do Arquivo Público. O caso mais representativo foi a vinda de 29 colonos sardo-piemonteses, pertencentes ao Reino da Sardenha, para a Colônia de Santa Isabel, em setembro de 1858, oriundos da província de Torino, na região do Piemonte, antes da Unificação da Itália.

Mas, esse e outros grupos de italianos que vieram para o Brasil antes de 1874 configuram uma imigração pontual; são casos isolados, intercalados. A Expedição Tabacchi dá início ao maior fluxo de imigrantes italianos para o Brasil, num processo contínuo, que se estende por praticamente um século, período em que se observa a movimentação de milhões de camponeses, artesãos, operários nos portos italianos, embarcando em grandes transatlânticos em busca de novas oportunidades para as futuras gerações em terras brasileiras, fugindo da miséria que à época assolava a península itálica.

A Itália, recém-unificada, era um país desconexo, com altas taxas demográficas e uma grande massa de desempregados. O custo elevado das guerras de unificação, aliado ao avanço do capitalismo no campo, em uma nação eminentemente agrícola, ainda em processo de transição do regime feudal, trouxe em seu bojo a miséria e a fome para os camponeses. Sem alternativas, partiam em massa para realizar o sonho de far la Mèrica.

Essa oferta considerável de mão de obra abria um grande leque de oportunidades para os países do Novo Mundo, que por sua vez necessitavam de gente para trabalhar o seu vasto território. Foram interesses que se entrecruzaram.

O poder público atuava diretamente nesse empreendimento. Contratos eram firmados entre os agenciadores, transportadores e os governos das nações envolvidas. A imigração italiana então passou a ser o “negócio do século”. 5

Já em 1875, as partidas dos transatlânticos de Gênova e de outros portos da Europa, como Le Havre, na França, repletos de imigrantes, se torna rotina. Inicia-se então a imigração oficial, patrocinada pelos governos provinciais e pelo Império do Brasil. Grandes levas de italianos são destinadas às províncias do Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O fim do regime escravocrata impulsionou ainda mais esse fluxo, sendo então direcionado às fazendas de café de São Paulo e do sul de Minas Gerais, que passaram, então, a concentrar os maiores números de camponeses italianos.

Até o ano de 1900 verificou-se a entrada de 34.925 imigrantes italianos para os portos do Espírito Santo. 6

Encontram-se no Espírito Santo representantes de todas as regiões da Itália, mas a preponderância é para aquelas do norte (Vêneto, Lombardia, Trentino-Alto Ádige, Emilia-Romagna, Piemonte, Friuli-Venezia Giulia, Liguria e Vale d’Aosta), que, juntas, forneceram 92% dos imigrantes. As regiões do centro contribuíram com 6% e as do sul, com 2% dos italianos.

Programação

6h – Recepção das comitivas;

7h às 7h30 – Concentração – início do cortejo para o embarque dos imigrantes;

8h – Chamada para o embarque dos imigrantes;

8h30 – Partida do navio – cortejo marítimo;

9h – Desembarque dos imigrantes no Porto de Vitória;

9h30 – Caminhada dos imigrantes para a Catedral Metropolitana (subida pela escadaria Bárbara Lindenberg – Palácio Anchieta);

10h – Missa Polifônica Italiana – Coro das 100 vozes;

11h30 – Saudações das autoridades;

12h – Início dos festejos e das atrações culturais.