Do Abrigo à Glória: Acolhido surpreendente ao ganhar o Campeonato de Dominó
Se alguém perguntar quais os benefícios gerados e as habilidades necessárias no jogo de dominó, provavelmente, a prática da matemática será a resposta majoritariamente dominante. Mas basta olhar para os participantes do Campeonato de Dominó “Vitória do Acolhimento”, realizado na rede socioassistencial do município, para ter a certeza que o dominó abre o leque para outras possibilidades, como interação, além de ser um caminho que leva a uma nova maneira de pensar e ver a própria realidade.
Para Carlos Alberto, que se encontra em acolhimento no Abrigo Jabour, jogar dominó “esfria a cabeça”. Ele afirma que, jogando, esquece as coisas ruins do passado e, quando termina, está focado para olhar para o futuro. “Estou atrás da minha documentação para dar entrada na minha aposentadoria. Não tenho como trabalhar (mostrando a muleta que usa como apoio)”, contou Carlos.
Carlos, que há 20 anos está na condição de situação de rua, falou do seu orgulho de fazer parte do time de jogadores do Acolhimento Jabour.
“Eu já fui acolhido do Centro Pop (Centro de Referência para Pessoa em Situação de Rua), mas há algum tempo estou no Jabour. Lá é uma casa. É a minha casa. É um lugar e tanto. Tem cama, alimentação, comida e banho, tudo no horário certo. Não falta nada”, disse ele.
Integrando o time do Centro Pop, Ludmila Baptista Lourenço era só sorrisos. Ela foi a primeira mulher a vencer na primeira fase do campeonato.
“Foi muito bom participar, vibrar e torcer pelos colegas”, falou ela. Mesmo sem conseguir avançar para a final, Ludmila disse que jogando dominó é possível fazer um paralelo com a vida. “A gente está sempre tentando vencer. Dizem que quem tem sorte no jogo não tem sorte no amor. Eu tenho sorte no amor. Estou casada há 10 anos”, falou Ludmila, orgulhosa.
Vencedor na categoria “acolhidos”, Fagner dos Santos Freire esbanjava alegria com o título de campeão.
“Treinei muito para chegar ao campeonato. A sensação de vitória é muito boa”, comentou ele. Mesmo com a medalha no peito e com o troféu de primeiro lugar nas mãos, Fagner demonstrava humildade. “O importante e participar. Participar do campeonato faz parte de um processo, de um caminhar. Todos que chegaram até aqui também são vencedores”, falou ele.
Ao ser questionado qual era a emoção de ganhar o título, Fagner disse: “Estou muito orgulhoso com o meu desempenho no campeonato. Mas mais feliz por eu sentir as mudanças na minha vida. Voltei a estudar aqui no Abrigo 1 e posso dar esperanças para minha família. Estou lutando aqui, para poder olhar para traz e ver que deu tudo certo”.
Abraçado a Fagner, Evanildo Alves de Oliveira, de 40 anos, segundo colocado no torneio, disse que a sensação de vitória é muito boa. “Valeu a pena treinar”. Ele contou que, enquanto jogava, lembrava os ensinamentos do professor Fernando Ferreira de Matos (professor de Educação Física da Secretaria de Esportes responsável pela definição das regras e treinamentos).
O professor disse que o ato de jogar dominó é mais um instrumento para orientar, ensinar e proporcionar aos acolhidos, e que “é preciso respeitar as regras seja na vida seja jogo. Enquanto jogam, eles treinam a paciência, porque é preciso espera a sua vez de jogar. Além de desenvolverem, a capacidade de organização, com o simples ato de segurar as peças e jogar observando cada uma delas”, falou o educador.
Para a gerente de Proteção Social de Alta Complexidade, Anacyrema Silva, o Campeonato de Dominó “Vitória do Acolhimento” foi mais uma ação para aumentar seu contato social, exercitar a integração e a comunicação entre os acolhidos.
“A ludicidade é um portal para acessar esses adultos. Ela corrobora a construção e o fortalecimento de todos os vínculos que compõem a trama do serviço, bem como facilita a apropriação das aprendizagens. O lúdico, seja por meio de recursos didáticos, brincadeiras ou jogos pedagógicos, “distensiona” o espaço do acolhimento, oportuniza novos sentimentos e experiências, retira o foco do que é costumeiro, ao ampliar os repertórios socioculturais, e, consequentemente, contribui com a saúde mental dos sujeitos. “, comentou ela.
O secretário de Esportes, Rodrigo Ronchi, comemorou o sucesso da integração das duas políticas públicas (Esportes e Assistência Social). “Este tipo de campeonato tem a capacidade de estimular, socializar e promover as relações sociais, além de trabalhar a auto estima da pessoa. Sem dúvida, é o esporte usado como vetor e ferramenta de inserção e inclusão”.
A secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, declarou que se sente satisfeita com a atuação das equipes que atuam nos espaços de acolhimento de pessoas em situação de rua que buscam formas inovadoras e, também, ações simples como instrumento de integração de pessoas e incentivo à participação, socialização e novo olhar para sua história de vida. “A Assistência Social transforma vidas e a soma de políticas públicas potencializa os resultados. Acreditamos ser possível a transformação social, também, por meio do esporte”, disse a secretária.
O secretário de Esportes, Rodrigo Ronchi, e secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, fizeram a entrega das medalhas e troféus dos participantes.
Fonte: PMV