Histórias de Empoderamento: A Jornada de Dayse, Primeira Mulher Comandante da Guarda de Vitória

Histórias de Empoderamento: A Jornada de Dayse, Primeira Mulher Comandante da Guarda de Vitória

Com quase 1,80m de altura, Dayse Barbosa não passa despercebida por onde circula quando está trabalhando. Mas não é nem a altura e nem o sorriso largo que chama atenção. É que Dayse ocupa o posto de Comandante da Guarda Civil Municipal de Vitória (GCMV), cargo que durante 20 anos de história da instituição sempre foi ocupado por homens.

“Confesso que é uma função exaustiva e desgastante, na maioria das vezes. Mas é por acreditar que estou mais acertando do que errando que sigo firme nessa missão que recebi. Fiz um compromisso de liderar, inspirar e motivar. Tenho orgulho de usar este uniforme, de fazer parte desta instituição e de representar a Guarda de Vitória”, conta a comandante.

Dayse cresceu em Santo Antônio, Vitória, e é formada em Pedagogia. Ela trocou as salas de aula pelo colete e arma somente em 2012, último concurso para agente. Desde então, foram horas em pé em pontos bases, patrulhando, realizando abordagens e lidando com situações de risco.

“Apenas ‘estou’ comandante, amanhã ou depois, estarei na rua de novo fazendo tudo isso. Sou preparada para isso. A Guarda é um aprendizado diário, não tem rotina. Eu posso programar todo meu dia amanhã, mas por fazer parte da segurança pública e acontecer adversidades é o ‘normal”, descreve Dayse, enquanto abaixa o rádio comunicador que carrega ligado.

Glacieri Carraretto
Dayse Barbosa é a primeira comadante mulher da Guarda de Vitória
Dayse cresceu em Santo Antônio, Vitória, e é formada em Pedagogia. Ela trocou as salas de aula pelo colete e arma somente em 2012, último concurso para agente.

Avanços

Ao longo dos 20 anos de criação, a Guarda de Vitória viveu mudanças, em especial nos últimos três anos. Se tornou mais uniforme, robusta, bem equipada e altamente tecnológica. Dayse acompanhou as alterações mais recentes de perto.

“Vejo uma Guarda Municipal muito mais preparada, coordenada e com atribuições de extrema necessidade para a segurança pública dos moradores de Vitória. É a referência de proteção para o cidadão”, conclui.

Apenas 20% do efetivo da Guarda de Vitória é, hoje, formado por mulheres. O ambiente majoritariamente masculino de toda a segurança pública não é muito receptivo com as mulheres, ainda mais quando falamos de cargos de liderança.

“Por exemplo, na interação com outras Guardas Municipais, forças de segurança, secretarias, muitas vezes eu percebo que sou a única mulher no grupo. Mas isso nunca foi empecilho, sei que infelizmente é uma construção social que tentamos quebrar diariamente. É um desafio, que me fortalece e eu gosto de vencê-los”, detalha.

Enquanto agente, Dayse também viveu momentos importantes da vida pessoal. No topo da lista está o nascimento da filha, hoje com 6 anos.

“Ela é a minha vida e tento ser um exemplo, assim como minha mãe é para mim, mesmo não estando mais aqui comigo. Mamãe é minha maior referência, uma mulher simples que me ensinou a ter força, a ser persistente e ter autonomia. Ela foi essencial para eu me tornar a mulher que sou hoje. É a mesma formação que tento dar para a minha filha. Quero que ela cresça sabendo que pode fazer qualquer coisa”, completa Dayse, que perdeu a mãe aos 18 anos.

Há apenas um ano com os quatro galões no laço húngaro (símbolo sobre os ombros do uniforme que caracteriza a hierarquia na Guarda Municipal), Dayse espera que outras mulheres ocupem o cargo.

“Tomar decisões não é uma tarefa fácil. E quanto maior a responsabilidade, maior o impacto de uma decisão. Estar como Comandante da Guarda Civil Municipal de Vitória é uma imensa responsabilidade, afinal, a tropa é formada por meus pares, colegas de instituição (muitos até meus amigos da vida pessoal). Sinto-me parte desta instituição e me dedico fazendo o melhor para ela. Compreendo que ser uma mulher no comando é uma vitória para todas nós, mas acredito que devemos celebrar também as vitórias das lutas diárias que, muitas vezes, não são reconhecidas, mas elas existem a todo instante”, completa.