A restauração da restinga, florestas e nascentes de Vitória impulsiona a biodiversidade
A recuperação de áreas verdes na capital tem possibilitado o retorno da biodiversidade local por meio de iniciativas e investimentos. Já em execução pelo município, no campo do meio ambiente, vários projetos envolvem o restabelecimento da cobertura vegetal, a preservação de matas e a identificação da qualidade e a quantidade de água em nascentes da cidade.
Atualmente, o trabalho de recuperação da área de restinga existente ao longo da orla da capital trouxe o aparecimento de várias aves na região, como beija-flores das espécies Colibri (Colibri serrirostris), o Estrelinha Ametista (Calliphlox amethystina), o Beija-Flor-Vermelho (Chrysolampis mosquitos) e o Beija-Flor-Tesoura (Eupetomena macroura), e pássaros, que antes estavam ausentes, mas são comuns dessa vegetação, como o Melro-preto (Turdus merula), Sabiá-da-praia (Mimus gilvus).
O aparecimento e a identificação dessas espécies foi possível com a eliminação de plantas exóticas que prejudicavam o desenvolvimento desse bioma. A introdução da vegetação baixa e rasteira de até um metro de altura permitiu a restinga ser local de alimentação e descanso das aves.
“Dessa forma, o Programa VixFlora abrange intervenções de plantios se utilizando de diferentes técnicas, específicas para cada área de intervenção. No caso da restinga de Camburi, e também da Curva da Jurema, estamos utilizando os princípios da recuperação da restinga do tipo halófila-psamófila, pois a área a ser recuperada é originária de aterros hidráulicos e não possuía uma cobertura de vegetação anteriormente à intervenção. Assim, um ecossistema natural está sendo implantado e os objetivos desse projeto, apesar de serem inúmeros, buscam especialmente recuperar a natureza com plantas nativas da restinga que sirvam de alimentos para a fauna, especialmente as aves. No caso dos beija-flores raros que estão frequentando a restinga de Camburi, estes estão lá porque se alimentam do néctar das flores das espécies que plantamos”, apontou o secretário de Meio Ambiente, Tarcísio Föeger.
O secretário destacou que o Viveiro Municipal de Restinga foi estratégico para esse processo, pois todas as mudas plantadas foram produzidas no local e essa produção foi focada nas espécies que se adaptariam às condições restritivas de nossas praias.
“Sabemos que a restinga rasteira e arbustiva é muito importante para as espécies nativas, especialmente as aves. Então implantamos uma técnica que nós denominamos de mosaicos de restinga, onde se faz uma composição de diversas espécies arbustivas em forma de ilhas, removemos a vegetação invasora no entorno e a substituímos por plantas rasteiras típicas de ambientes de praia para cobertura do restante do terreno. Assim, não só os beija-flores, como diversas outras espécies de aves que pouco se viam na cidade, estão cada dia mais presentes e numerosas em Camburi, fato que tem atraído diversos especialistas e fotógrafos”, ressaltou o engenheiro agrônomo e coordenador do VixFlora, Fernando Pratti.
Mata Atlântica
As técnicas utilizadas pelo VixFlora não se restringem apenas à restinga. O projeto também busca a ampliação da diversidade da flora, beneficiando também a fauna, plantando espécies nativas que fornecem alimentos e também buscando reintroduzir aquelas espécies que não mais existem nesses locais, como as árvores de madeira nobres que foram no passado retiradas para usos urbanísticos e, consequentemente, exterminadas dessas florestas.
Recentemente, ainda como parte dos projetos voltados ao meio ambiente, a cidade de Vitória ganhou uma importante ação para a recuperação de áreas degradadas e de recuperação vegetal de suas matas. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam) promoveu o lançamento do Programa de Ampliação da Cobertura Florestal da Mata Atlântica da capital com o plantio de mais de 200 mil mudas de espécies nativas.
O programa prevê intervenções em 41 áreas do município, que somam 90,66 hectares (equivalente a 90 campos de futebol), por meio da introdução de mudas de espécies florestais nativas do bioma Mata Atlântica. Entre estes locais, ressaltam-se as unidades de conservação, áreas de risco e as Áreas Verdes Especiais (AVE).
“Esse programa é inédito e consiste na execução de técnicas de implantação e manejo florestal para formação de novas florestas, além de favorecer o equilíbrio biológico e ampliar a biodiversidade em áreas em processo de recuperação”, destacou o secretário Tarcísio Föeger. Ele ressaltou que, além dos consagrados benefícios ambientais, paisagísticos e climáticos, as florestas também exercem outras importantes funções para as áreas urbanas.
Tarcísio frisou que elas ajudam, especialmente, na contenção da ocupação desordenada sobre áreas de risco geológico, na redução da erosão do solo e seus consequentes agravamentos, como os deslizamentos de encostas e o carreamento de solo que obstrui as redes de drenagem urbana.
Plano de Manejo
Outro programa que está em andamento é o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Maciço Central, situada na porção insular e que possui como objetivo a defesa do maior fragmento de Mata Atlântica da capital, que contará com diagnósticos do meio físico, biológico, social, de zoneamento e de utilização do espaço localizado nessa região.
O novo plano de manejo contemplará uma área de proteção ambiental, que atualmente tem ao seu redor a formação de 24 bairros e é composta por oito unidades de conservação: parques da Fonte Grande, Vale do Mulembá, Tabuazeiro e Gruta da Onça, além dos espaços protegidos da Pedra dos Olhos, Refúgio de Vida Silvestre de Fradinhos e Reservas Ecológicas de Fradinhos e São José.
“O lançamento do edital tem objetivo de realizar um amplo plano de manejo da unidade de conservação da APA do Maciço Central. Vamos fazer o que ainda não foi feito, pois o conjunto de normas proposto em 1992 não se configura como um plano de manejo instituído pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), que é de 2000″, destacou o secretário municipal de Meio Ambiente, Tarcísio Föeger.
Ainda de acordo com o secretário, o documento atual da APA do Maciço Central, no que diz respeito ao seu zoneamento ecológico-econômico, tem sido utilizado como referência para o ordenamento territorial na região, sobretudo nas ações de controle com foco no licenciamento ambiental e urbanístico.
“Uma das ferramentas mais importantes do plano de manejo é o zoneamento da Unidade de Conservação, que a organiza espacialmente em zonas sob diferentes graus de proteção e regras de uso. O plano de manejo também inclui medidas para promover a integração da Unidade de Conservação à vida econômica e social das comunidades vizinhas, o que é essencial para que implementação da unidade de conservação seja mais eficiente. É também neste documento que as regras para visitação são elaboradas”, complementou.
Nascentes
Na área hídrica, o município está realizado estudos sociais e ambientais, com destaque para os levantamentos hidrogeológicos por meio do Projeto Fonte Viva, visando mapear os veios/fraturas e identificar a qualidade e o volume de água que aflora nas nascentes do Maciço Central da capital.
O mapeamento desses veios e bolsões de água possibilitará o aprimoramento dos trabalhos de conservação das nascentes, além da identificação das reservas que poderão ser utilizadas no futuro, no caso de um possível desabastecimento pelos rios que atendem atualmente a capital com água para consumo dos moradores – Santa Maria da Vitória e Jucu.
“Por meio dessas reservas de água, seria possível fazer a captação, o tratamento e a distribuição por meio de fontes públicas, em uma situação de emergência”, afirmou Föeger. Ainda de acordo com o secretário, como exemplo, o município identificou que na lagoa da Pedreira Mulembá, situada no Parque Municipal Natural Vale do Mulembá, há uma reserva de segurança de água estimada em 150 milhões de litros, que poderia ser utilizada em caso de emergência hídrica na capital.
Em uma segunda etapa, o programa Fonte Viva ampliará estruturas de engenharia hidráulica para viabilizar o uso alternativo da água para serviços públicos e para uso das comunidades, em caso de desabastecimento.
Inventário
Ainda como parte do trabalho, a capital concluiu recentemente o novo Inventário da Arborização Urbana, que apontou que na cidade há mais de 34 mil espécies arbóreas. Esse é o quantitativo de árvores que estão em locais públicos, como canteiros centrais e laterais, alamedas, recantos, rotatórias e orla de Vitória. Todas as espécies arbóreas catalogadas podem ser consultadas por meio do sistema de Geoweb da Prefeitura de Vitória, acessando o endereço https://geoweb.vitoria.es.gov.br/ e, depois, em Aplicações, clicando no banner Arborização Painel Gerencial.
Também pode verificar onde as árvores estão situadas, como calçadas, praças, canteiros centrais e laterais, orla, rotatórias/trevos, recantos e alamedas, e conhecer o quantitativo de espécies por cada uma das nove regiões administrativas. De forma interativa, ainda, poderá clicar no mapa da ilha de Vitória, onde cada ponto verde representa uma árvore catalogada, escolher uma e saber mais detalhes sobre aquela espécie, como altura, bairro, logradouro, região, espécie e posição, por exemplo.
“O inventário nos dá elementos importantes que reforçam a necessidade de termos, cada vez mais, números e informações, dados quantitativos e qualitativos, para melhor gerir as áreas verdes da capital. E nos mostra onde devemos avançar nas regiões da cidade e plantar mais árvores, a partir de uma dinamização urbana”, ressaltou o secretário.
Continuidade
“É preciso entender que tanto a restauração quanto à recuperação de áreas naturais são processos que apresentarão estabilidade somente em médio e longo prazos. Assim, é necessário que esses projetos tenham continuidade, com replantios, manutenções e monitoramento permanente para garantir o bom desenvolvimento. Outro fator importante do Programa VixFlora é que todos os investimentos nas diversas áreas são originários de captações de recursos e também de parceiros, como é o caso do projeto de Camburi”, disse Pratti.
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