Andréia Falqueto e sua excelência reconhecida internacionalmente.

Andréia Falqueto e sua excelência reconhecida internacionalmente.

Confira a entrevista exclusiva que a artista concedeu ao nosso portal

Quando falamos sobre artistas em ascensão no cenário da arte capixaba, Andréia Falqueto é um nome que ressoa frequentemente entre críticos e colecionadores. Sua obra vigorosa e instigante já ocupa um espaço de destaque na galeria das grandes produções do Espírito Santo.

Trajetória e Formação de Excelência

Andréia é muito mais que uma artista visual. Ela é pesquisadora, professora e referência acadêmica, com uma formação sólida e internacional:

  • Doutora em Creación Artística y Reflexión Crítica e Mestra em Producción e Investigación en Arte pela Universidade de Granada, Espanha.
  • Bacharel em Artes Plásticas e Mestra em História e Crítica de Arte pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Brasil.

Atualmente, a artista é representada pelo IADÊ Instituto/SP e pela Galería Sur, em Barcelona. Além disso, é membro ativo do grupo de pesquisa “En los Bordes: Arte público y arte en vivo”, da Universidade de Granada.


Reconhecimentos e Premiações

A excelência de Andréia Falqueto é reconhecida internacionalmente. Um marco em sua carreira foi o primeiro lugar no concurso Andaluz de Arte y Reciclaje, na Espanha, em 2019. Suas obras integram acervos prestigiados, como:

  • MAC Paraná, no Brasil.
  • Coleções institucionais da Prefeitura de Vitória.

Desde 2011, ela participa de exposições individuais e coletivas no Brasil e na Espanha, consolidando seu nome como uma das artistas mais inovadoras de sua geração.


O Estilo Único de Andréia Falqueto

Com uma abordagem que une antropologia e arte, Andréia explora a imagem na contemporaneidade. Seu foco está em questões profundas, como:

  • A presença humana no mundo e suas relações com o entorno.
  • A influência de sua cidade natal, Vitória/ES, em suas criações.
Título: Considere as consequências das coisas

A artista transforma cenas cotidianas em paisagens enigmáticas e oníricas, levando o espectador a um universo simbólico e profundamente pessoal. Essa singularidade faz de sua obra um ponto de conexão entre o familiar e o transcendente.

Um Olhar Sobre a Produção Teórico-Prática

Andréia trabalha com uma variedade de suportes:

  • Pintura e desenho.
  • Objetos e instalações.

Sua pesquisa aborda a imagem como experiência sensorial e reflexiva, desafiando o público a reinterpretar as relações humanas com o espaço e o tempo.

Título: Sobre seu próprio corpo e mente, o indivíduo é soberano

Entrevista Exclusiva com a Artista

Em meio a uma rotina intensa, Andréia Falqueto nos recebeu em seu ateliê, no bairro Jardim da Penha, em Vitória. Durante a conversa, a artista compartilhou detalhes sobre sua jornada criativa, as influências de sua formação e os desafios de conciliar a vida acadêmica com a produção artística.

1- Fale um pouco sobre a sua origem, se apresente.

Sou artista visual natural de Vitória, mas gosto de pensar nas misturas que me trouxeram até aqui: Meu pai é descendente de indígenas capturados por portugueses, natural de Maceió/Alagoas, e minha mãe é descendente dos imigrantes italianos que se estabeleceram em Venda Nova, região das montanhas capixabas. Dessa forma penso que sou brasileira, com todas as nuances conceituais, sociais e políticas que isso implica.

2-Houve um momento em que você se percebeu artista? Fale sobre isso.

AF: Durante a graduação, quando comecei a expor os trabalhos. Até então eu me via apenas como uma estudante que além de fazer aulas dava oficinas junto à UFES. Eu já me destacava nessas áreas mas só quando comecei a expor, esse rótulo foi colocado, e acho que pra ser artista precisa de percurso. Porém, se amadurece como artista até o fim da vida.

3-Como o Espírito Santo trata seus artistas? Recentemente fizemos algumas matérias sobre Artistas  capixabas e percebemos que a população simplesmente não os conhece.

AF: Poderia tratar melhor, visto que o grande público não frequenta de forma assídua os espaços institucionais de arte, público ou privados, mesmo acesso gratuito, ainda que visite de outros países, conforme escuto relatos variados. Porém os órgãos privados e públicos tem feito um trabalho importante abrindo espaço com novas ferramentas para convidar novos visitantes aos espaços expositivos.

 

4-Como é sua relação com o público? Essa troca existe?

AF: Existe, mas eu não busco deliberadamente esse contato, eu creio que ele ocorre de forma espontânea e orgânica a partir da visibilidade do meu trabalho, principalmente de parte de um público interessado em conhecer e adquirir arte. Recebo visitas no ateliê, de amigos e novos clientes que queiram saber mais sobre o que faço. Tenho bastante contato com as pessoas pelas redes sociais. Não vejo meu trabalho como algo que entretem as pessoas, então sempre existe aquela questão, a pessoa crê que deve saber de arte para ter contato com, e na verdade essa lógica é inversa.

5-Recentemente pudemos presenciar uma espécie de Banalização da arte.Tudo é arte, dentro de uma perspectiva específica. O que pode ser considerado Arte pra você?

AF: Arte é a legitimação da expressão humana, dentro das mais variadas linguagens visuais e conceituais. Não se pode botar um termo do que é ou não arte, porque, isso depende de como é defendido por aquele que advoga a seu favor, seja o artista, crítico ou curador. O que é arte para mim pode não ser para você, e vice versa. É necessário um debate fundamentado, para promover ou demover do status de arte. Isso não tem a ver, é bom afirmar, com a qualidade da arte. Mas acima de tudo, arte é aquilo que não tem função prática.

 

6- Um Artista pra ser completo, precisa ser conhecido pelo grande publico? Porquê?

AF: Não necessariamente. Temos uma noção complexa do que é o grande público, pois hoje ser conhecido e aprovado podem significar likes ou seguidores para um, ainda que grandes artistas contemporâneos tenham uma rede social ínfima. Sem falar nos artistas mortos, que nem rede social possuem. Penso que para afirmarmos o que é um artista completo, devemos questionar a nós mesmo, artistas, o que buscamos? Reconhecimento? Satisfação pessoal? Dinheiro? Um lugar na história da arte? É uma pergunta de difícil conclusão, e mais ainda, de âmbito muito íntimo e pessoal de cada artista, e penso que devemos evitar generalizações e  imposições sociais.

 

7-Arte e Política dialogam?

AF: Certamente, sempre dialogaram, em contexto de exposição de questões pessoais ou por crítica social globalizada. Por vezes a questão de crítica política pode ser explicita ou implícita, beirando o lúdico e o absurdo, como o Dadaísmo, ou forma agressiva, como o artista chinês Ai WeiWei faz em seus projetos.

 

8-Em Quais eventos de arte Andreia Falqueto sairia de casa para apreciar? Porquê?

AF: Aqui em Vitória, de preferência os que eu seja convidada, os que possuam uma verdade em seu objetivo, e os que envolvam amigos queridos. Fora eventos locais de arte, eu gosto de viajar para ver retrospectiva de artista, como aconteceu em 2023, com a mostra do Francis Bacon no MASP, ver feiras de arte, ou na oportunidade que tive de ir ao Museu do Prado, conhecer os bastiões da pintura da Escola Espanhola. Porque é necessário vivenciar o que se faz de relevante hoje e o que foi feito no passado.

 

9-Quem te influenciou e ainda influencia artisticamente?

AF: Penso que somos influenciados por artistas que nos identificamos de alguma maneira, seja visualmente ou conceitualmente. Gosto muito de Lucian Freud, Paul Gauguin, Henri Matisse, Paul Cézanne. De artistas contemporâneos, Marlene Dumas, Peter Doig, Gerhard Richter, ah são tantos…

 

10- As políticas públicas de fomento a Arte no estado são eficazes?

AF: Não sou apta para opinar nisso, pois não dou conta profundamente dos rumos gestores nesse sentido, mas parece que estão fazendo um trabalho da melhor forma possível, dentro das condições.

 

11-Estamos em 1970, Andréia Falqueto venderia um de seus quadros para compor o acervo de um governo militar?

AF: Não creio. Talvez eu fosse exilada por pintar corpos e a figura feminina? Faz parte do meu trabalho uma antropologia social. Já fiz séries de trabalho que tratava de trabalhadores noturnos, refletiam sobre condições sociais e apontavam o uso da natureza. Não seria visto com bons olhos ainda que tenha um formalismo figurativo.

 

12- Eutrofia,fale sobre esse trabalho por favor.

AF: A eutrofia, na natureza refere-se ao processo pelo qual corpos d’água, como lagos, lagoas e rios, se tornam enriquecidos com nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo. Esses nutrientes são essenciais para o crescimento de plantas aquáticas, como algas. Quando em excesso, porém, podem desencadear um crescimento descontrolado de algas, conhecido como floração de algas.

Em relação aos seres humanos, a eutrofização está frequentemente ligada às atividades humanas. O uso excessivo de fertilizantes em áreas agrícolas pode resultar no escoamento de nutrientes para cursos d’água, contribuindo para a eutrofização. Além disso, o despejo inadequado de resíduos domésticos e industriais também pode enriquecer corpos d’água com nutrientes.

Dentro desse recorte imaginativo, percebi que as imagens criadas nessa série se  relacionam com esse dito excesso de elementos no mundo proporcionado pelos humanos contemporâneos, em suas mais diversas leituras conceituais. Utilizando a justaposição e sobreposição quase absurda de elementos visuais e de abstratos, desenvolvi uma série de trabalhos recentes.

 

13-Recentemente você escreveu sobre pensamento crítico atribuindo essa possibilidade a qualquer pessoa que entre em contato com uma obra de arte,nesse sentido,toda pessoa é um crítico de arte em potencial? Porquê?

AF: Temos que buscar nosso lugar no mundo. Se um indivíduo tem desejo de opinar sobre arte, creio que ele deve buscar esse contato e tecer reflexões, ler catálogos, participar de visitas guiadas, é assim que se aprende. A arte é um campo de aprendizado humano pouco explorado em alguns locais. Penso que essa prática pode ser mais incentivada nas família, ao invés de achar que tudo é belo ou feio, de forma simplista e dualista.

 

14- A artista e Professora carioca Celeida Tostes costumava trabalhar com o que chamava de “autoria diluída” no que dizia respeito as suas obras. Segundo ela,essa perspectiva se apresentava na medida em que seus interlocutores eram parceiros ativos desse trabalho quando interagiam com ele. Concorda com essa percepção?

AF: Sim, concordo. A prática e reflexão artística é uma atividade humana que embora parece singular e do gênio, muitas vezes é concebida em sociedade, seja sua manufatura, a ativação, a concepção, ou mesmo a construção do significado crítico e conceitual.

 

15-A vaidade do Artista permite uma divisão de autoria com o público?

AF: Penso que essa divisão acontece caso o projeto artístico vise essa participação de co-autoria.

 

16-Andreia,você acha que as galerias de arte e os museus,amedrontam aqueles que normalmente não tem contato com eles? São acessíveis para a população em geral?

AF: Acredito que é um nicho intrínseco como muitos outros, porém que oferece barreiras invisíveis e que não proporciona um entretenimento automático como cinema e praça de alimentação. En relação a espaço físico em si, não é uma questão de laçar o público que passa, e sim, uma formação de base nas escolas, incentivando a visitação desde pequeno, em um contexto social e porque não dizer, de lazer.

 

17-Voce faz concessões no seu trabalho? Qual o tamanho da sua independência,principalmente quando vai expor em galerias?

AF: Tenho zero problemas em fazer concessões desde que essa demanda venha de um grupo ou indivíduo especializado, que sabe muito do que está falando, e que se faz tal recomendação, é para o crescimento do trabalho, não por um possível vício de informação.

 

18- A imprensa é amiga da Arte? Explica por favor.

AF: Pode ser amiga ou inimiga. A imprensa é um veículo de informação. Como essa mensagem será entregue, o que contém, qual será sua roupagem, aí está o ganho ou perda. Não esqueçamos que do artigo de Monteiro Lobato entirulado “Paranoia ou mistificação”, publicado em 1917 no Estado de São Paulo atacava de uma forma bastante dura a exposição de Anitta Malfatti, levando a mesma a uma depressão que quase a fez abandonar a arte.

Pode ainda ser uma importante ferramenta de denúncia, legitimação e consagração pública. Hoje todos detem o poder da fala, mas o poder da legitimação vem com recursos e peso social.

 

19- Acabamos de aprovar um Doutourado em Artes na UFES. Muitos artistas que antes saíam do estado para se especializar, agora podem fazer isso aqui. Qual a importância disso?

AF: Grande importância. A UFES e o estado ganham por ter um programa de doutorado em Artes que possibilida a formação continuada. Penso que esse aspecto pode ajudar os estudantes a alcançar novas oportunidades profissionais sem necessitar do ônus de deslocar-se a outro estado ou país, como foi meu caso.

 

20- Fale sobre o que está fazendo agora e seus planos para o futuro.

AF: Estou estudando (acho que não vou parar nunca) trabalhando no ateliê com novos projetos, participando de uma mostra que inaugura em 25 de Janeiro em Barcelona, na Catalunha/Espanha, e sigo sendo convidada para projetos como artista ou para dar orientação a grupos de artistas. Dizem que artista não aposenta nunca: que assim seja!

Conclusão

Andréia Falqueto é um nome indispensável para quem acompanha o cenário da arte contemporânea capixaba e internacional. Com uma trajetória marcada pela inquietação criativa e pela busca incessante por novos significados, suas obras transcendem fronteiras e oferecem ao público uma experiência artística única.